quarta-feira, 9 de março de 2011

Fraternidade e Vida no Planeta

O mandamento esquecido

Do Site Brasil de Fato:

A CNBB convida todas as pessoas de boa vontade a se engajarem em uma nova Campanha da Fraternidade sobre o cuidado com a Vida no Planeta

09/03/2011

Marcelo Barros

Nas tradições espirituais, um mandamento de Deus não significa ordem arbitrária ou lei impositiva e sim uma revelação amorosa de um Pai de amor maternal que nos dá critérios de vida e ação e inscreve esta orientação no coração das pessoas para sermos felizes e realizarmos melhor nossa missão. Nas mais diversas religiões, um dos mandamentos é o do amor e cuidado com a terra, a água e todos os seres vivos. Hoje, há quem expresse este mandamento como se fosse o prolongamento do mandamento bíblico que nos manda amar o próximo (Lv 19): “Ame a terra como a si mesmo/a”. Embora esquecido por muito tempo, este cuidado é agora retomado pelo lema da Campanha da Fraternidade 2011, proposta pelos bispos católicos do Brasil. O lema é tirado da carta de Paulo aos romanos: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8, 22). Por isso, a CNBB convida todas as pessoas de boa vontade a se engajarem em uma nova Campanha da Fraternidade sobre o cuidado com a Vida no Planeta.
Celebrar a Páscoa é confirmar que Deus está em nós, nos fazendo sair de nós mesmos para uma vida de maior comunhão. Como discípulos de Jesus, podemos viver a vida nova do Cristo ressuscitado. A cada ano, a Campanha da Fraternidade nos convida a aprofundar isso através do engajamento em uma questão importante que desafia a sociedade. Neste ano, a CF 2011 nos convida a refletir e atuar para que a humanidade mude sua forma de se relacionar com a terra, a água e todos os seres vivos. 
O cuidado com a vida no planeta não pode ser apenas assunto técnico ou de competência dos governos. Deve ter como base uma atitude de amor e de espiritualidade para com a natureza, que todas as religiões acreditam ter sido criada e sustentada pelo Espírito Divino. Alguns cientistas acusaram a cultura judaico-cristã de ter provocado a destruição da natureza que agora ameaça a própria sobrevivência da vida no planeta. De fato, a Bíblia, interpretada ao pé da letra, dá ao ser humano o direito de explorar a terra e dominá-la (Gn 1, 28). É preciso compreender o contexto histórico em que os textos bíblicos foram escritos e reinterpretá-los em um sentido novo. De acordo com a revelação bíblica, a missão do ser humano é cuidar da terra e de todos os outros seres vivos com o mesmo amor com o qual Deus cuida de nós. Nesta nova perspectiva, somos todos convidados a contemplar a Deus presente e atuante na natureza como se manifesta na história.
Há alguns anos, em um programa de televisão, um pregador neopentecostal deu um chute em uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Com razão, católicos protestaram contra o desrespeito à sensibilidade religiosa de outros irmãos. Houve manifestações públicas de desagravo à imagem da santa. Entretanto, a cada dia, apenas para lucrar mais, o sistema capitalista destrói e desrespeita a imagem de Deus presente nos elementos do universo. Quando uma floresta é queimada ou cortada, quando um rio é desviado ou represado apenas para gerar energia, sem levar em conta o ecossistema e a vida nele presente, são imagens vivas do próprio Deus que estão sendo profanadas e destruídas. Como é importante que cristãos e pessoas de todas as religiões considerem a defesa das florestas, do Cerrado, dos rios e de toda a criação divina como expressão de fé e espiritualidade.
Quando os primeiros missionários cristãos chegaram ao México, compreenderam que os índios não aceitavam como Igrejas e lugares de culto, espaços fechados com paredes e telhado. Sua cultura lhes ensinava a sempre unir-se a Deus no contato direto com a natureza. Ainda é tempo de aprendermos com esta sabedoria ancestral e vivermos a nossa fé na comunhão amorosa com todo ser vivo.
Graças a Deus, em muitas cidades já existem comissões locais de defesa da natureza. Jovens se organizam para proteger o Cerrado, para evitar queimadas, proteger rios e até para evitar que uma árvore seja derrubada. Atualmente, alguns teólogos falam em “Corpo cósmico do Cristo”, ou seja, uma presença divina em cada ser do universo e não somente no ser humano. Assim, Jesus que, nos evangelhos, se identifica com cada pessoa empobrecida, também dirá um dia: “Isso que vocês fizeram a cada elemento da natureza, foi a mim que fizeram”.

Basismo e poder das entidades de base - coisas diferentes e opostas

PCB - [Alex Lombello Amaral] Nós comunistas temos que defender o poder das bases em todos os Sindicatos e DCEs do país, mas isso não significa que estejamos isentos de combater o basismo. Poder das bases e basismo são não só coisas diferentes como opostas.




Não temos no Brasil um exemplo de Sindicato realmente dirigido por seus trabalhadores. O melhor exemplo que temos, de São João del-Rei, é um Sindicato, dos Metalúrgicos, em que as bases de fato conseguem influenciar na formação da diretoria, e depois têm voz na decisão de seus próprios assuntos, mas de resto o Sindicato é dirigido pela diretoria. O que permite essa situação, rara no Brasil, é um Congresso que compõe a chapa que ratificada pela eleição dirige a entidade. Mas mesmo assim, e apesar de todos os esforços (por exemplo, é caso raro de Sindicato que consegue manter um jornal mensal, o que não é problema de dinheiro), as bases ainda permanecem a maior parte do tempo afastadas. Em todo o país a situação é ainda pior, com Sindicatos que têm "donos", o que explica a atual crise do movimento sindical. Isso se deve à imposição da ditadura de Vargas (1937-1945), que tomou todos os Sindicatos pela força da lei e da polícia e lhes impôs a estrutura política à qual estão presos até hoje. A "esquerda" brasileira é cega para isso, e em sua ignorância acredita piamente que o design político não interessa, que "o que interessa são as pessoas", uma tremenda demagogia.
No movimento estudantil temos um exemplo de poder da bases, no DCE-UFSJ, mas nesse caso existe a facilidade de já existirem entidades de base, ou seja, Centros Acadêmicos e Grêmios de cada curso ou escola. A Ditadura de 1964 a 1985 tentou liquidar de todas as formas possíveis as entidades de base, e criou DCEs com o mesmo princípio organizacional (design) dos Sindicatos de Vargas, mas não conseguiu extinguir as entidades de base, enquanto as empresas têm tido sucesso em impedir a organização dos trabalhadores nos locais de trabalho.
Então, obviamente, no movimento estudantil os comunistas devem defender o poder das entidades de base, e no movimento sindical têm que criar maneiras de dar o poder aos trabalhadores. Mas os comunistas param por aqui! O poder deve ser do povo, dos trabalhadores nos Sindicatos, dos estudantes em suas entidades, dos moradores em suas cidades, do povo todo sobre os governantes etc. Mas isso não significa que "a voz do povo é a voz de Deus", até porque isso seria blasfemar contra os deuses de qualquer religião. O poder deve ser do povo, mas o trabalho dos comunistas não é concordar com o povo, cheio de preconceitos e idéias atrasadas.
O mais forte e limitador desses preconceitos é contra a política! O preconceito contra a política tem uma forte base na realidade dos países capitalistas e é ainda alimentado pelos meios de comunicação de massas. Todos percebem que nisso que no mundo capitalista se chama democracia o povo não manda em nada, pois já elegeram prefeitos, governadores, presidentes etc, por trinta anos e continuam tendo mais e mais do que não querem de forma alguma, e é claro que isso desmoraliza a política. Por sua vez, como é do interesse das classes dominantes, capitalistas, a sua imprensa só mostra ao povão o que há de mais sujo na vida política, relacionando como coisas inseparáveis política e podridão, de forma que ser chamado de político virou ofensa.
Deixadas a si mesmas, as bases serão guiadas pela imprensa capitalista, pelas igrejas e por todas as formas de se propagar as idéias dominantes. Nos movimentos sindical e estudantil, as bases por si sós se afundam cada vez mais em seus problemas específicos, desligando-se do mundo, devido a seus preconceitos e ao egoísmo reinante. Os Sindicatos passam a lutar somente por salários e direitos, e as entidades estudantis por coisas como preços das cantinas, dos xerox e do transporte. Ou seja, os movimentos ficam limitados aos anseios espontâneos e aos preconceitos de qualquer trabalhador ou estudante. Basta lembrar que nem mesmo os escravos eram contra a escravidão antes da propaganda abolicionista. Cada escravo queria ser livre, mas isso não é ser contra a escravidão. As irmandades de escravos, constituídas só por escravos, na maioria das vezes chegavam no muito à ajuda mútua e só em raríssimos casos levantaram a voz contra a escravidão. Conhecemos em São João del-Rei só um caso, de uma carta enviada pela Irmandade do Rosário ao Rei em Lisboa, pedindo-lhe que estendesse ao Brasil a lei que abolira a escravidão em Portugal. Ou seja, nem a escravidão com suas torturas físicas e morais fazia com que a base fosse naturalmente politizada.
Quem sempre combate essa tendência natural basista a se limitar são os revolucionários de todas as épocas que ao invés de se abaixarem aos preconceitos das bases, se esforçam por puxar as bases para enxergar a política. Se não chegam a romper seu preconceito com a política, não há utilidade para as bases em terem o poder! Contudo, mesmo quando assumem o poder em uma entidade, as bases carregam consigo seus preconceitos, e caem facilmente em uma confusão - confundem ser contra o parasitismo partidário sobre os Sindicatos e entidades estudantis com ser contra a luta política, eleitoral e partidária. Ou seja, confundem ser dominados com dominar. É claro que evitar um gol e fazer um gol são coisas muito diferentes, mas todo brasileiro sabe que time que não faz leva, ou seja, as coisas têm relação. As bases, para terem poder, têm que exercê-lo. Se, com o pouco poder que têm, se intimidam, logo perderão até esse pouco. Uma coisa é não deixar os Partidos parasitarem os movimentos, outra coisa é os movimentos não buscarem influenciar as eleições, a vida política e partidária!

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Na imagem, foto do centro da cidade de São João del-Rei,localizada no interior do estado de Minas Gerais.

Alex Lombello Amaral é historiador e membro do comitê regional do PCB em Minas Gerais.

Michael Moore e a revolta em Wisconsin (do Blog do Miro)

Michael Moore e a revolta em Wisconsin 

 

Reproduzo matéria publicada no sítio Carta Maior:

Discurso proferido por Michael Moore, dia 5 de março, durante manifestação em Madison, Wisconsin, contra o pacote de medidas contra o funcionalismo e o serviço público proposto pelo governador republicano Scott Walker (com cortes de US$ 1,6 bilhão no orçamento de escolas e governos locais). Intitulada "Os Estados Unidos não estão falidos", a declaração lida por Moore está disponível na íntegra no site do cineasta. Publicamos a seguir a tradução em português:

Os Estados Unidos não estão falidos


Ao contrário do que diz o poder, que quer que vocês desistam das pensões e aposentadorias, que aceitem salários de fome, e voltem para casa em nome do futuro dos netos de vocês, os EUA não estão falidos. Longe disso. Os EUA nadam em dinheiro. O problema é que o dinheiro não chega até vocês, porque foi transferido, no maior assalto da história, dos trabalhadores e consumidores, para os bancos e carteiras dos hiper mega super ricos.

Hoje, 400 norte-americanos têm a mesma quantidade de dinheiro que metade da população dos EUA, somando-se o dinheiro de todos.

Vou repetir. 400 norte-americanos obscenamente ricos, a maior parte dos quais foram beneficiados no ‘resgate’ de 2008, pago aos bancos, com muitos trilhões de dólares dos contribuintes, têm hoje a mesma quantidade de dinheiro, ações e propriedades que tudo que 155 milhões de norte-americanos conseguiram juntar ao longo da vida, tudo somado. Se dissermos que fomos vítimas de um golpe de estado financeiro, não estamos apenas certos, mas, além disso, também sabemos, no fundo do coração, que estamos certos.

Mas não é fácil dizer isso, e sei por quê. Para nós, admitir que deixamos um pequeno grupo roubar praticamente toda a riqueza que faz andar nossa economia, é o mesmo que admitir que aceitamos, humilhados, a ideia de que, de fato, entregamos sem luta a nossa preciosa democracia à elite endinheirada. Wall Street, os bancos, os 500 da revista Fortune governam hoje essa República – e, até o mês passado, todos nós, o resto, os milhões de norte-americanos, nos sentíamos impotentes, sem saber o que fazer.

Nunca freqüentei universidades. Só estudei até o fim do segundo grau. Mas, quando eu estava na escola, todos tínhamos de estudar um semestre de Economia, para concluir o segundo grau. E ali, naquele semestre, aprendi uma coisa: dinheiro não dá em árvores. O dinheiro aparece quando se produzem coisas e quando temos emprego e salário para comprar coisas de que precisamos. E quanto mais compramos, mais empregos se criam.

O dinheiro aparece quando há sistema que oferece boa educação, porque assim aparecem inventores, empresários, artistas, cientistas, pensadores que têm as ideias que ajudam o planeta. E cada nova ideia cria novos empregos, e todos pagam impostos, e o Estado também tem dinheiro. Mas se os mais ricos não pagam os impostos que teriam de pagar por justiça, a coisa toda começa a emperrar e o Estado não funciona. E as escolas não ensinam, nem aparecem os mais brilhantes capazes de criar mais e mais empregos. Se os ricos só usam seu dinheiro para produzir mais dinheiro, se de fato só o usam para eles mesmos, já vimos o que eles fazem: põem-se a jogar feito doidos, apostam, trapaceiam, nos mais alucinados esquemas inventados em Wall Street, e destroem a economia.

A loucura que fizeram em Wall Street custou-nos milhões de empregos. O Estado está arrecadando menos. Todos estamos sofrendo, como efeito do que os ricos fizeram.

Mas os EUA não estão falidos, amigos. Wisconsin não está falido. Repetir que o país está falido é repetir uma Enorme Mentira. As três maiores mentiras da década são: 1) os EUA estão falidos, 2) há armas de destruição em massa no Iraque; e 3) os Packers não ganharão o Super Bowl sem Brett Favre.

A verdade é que há muito dinheiro por aí. MUITO. O caso é que os homens do poder enterraram a riqueza num poço profundo, bem guardado dentro dos muros de suas mansões. Sabem que cometeram crimes para conseguir o que conseguiram e sabem que, mais dia menos dias, vocês vão querer recuperar a parte daquele dinheiro que é de vocês. Então, compraram e pagaram centenas de políticos em todo o país, para conduzirem a jogatina em nome deles. Mas, para o caso de o golpe micar, já cercaram seus condomínios de luxo e mantêm abastecidos, prontos para decolar, os jatos particulares, motor ligado, à espera do dia que, sonham eles, jamais virá. Para ajudar a garantir que aquele dia nunca cheguasse, o dia em que os norte-americanos exigiriam que seu país lhes fosse devolvido, os ricos tomaram duas providências bem espertas:

1. Controlam todas as comunicações. Como são donos de praticamente todos os jornais e redes de televisão, espertamente conseguiram convencer muitos norte-americanos mais pobres a comprar a versão deles do Sonho Americano e a eleger os candidatos deles, dos ricos. O Sonho Americano, na versão dos ricos, diz que vocês também, algum dia, poderão ser ricos – aqui é a América, onde tudo pode acontecer, se você insistir e nunca desistir de tentar! Convenientemente para eles, encheram vocês com exemplos convincentes, que mostram como um menino pobre pode enriquecer, como um filho criado sem pai, no Havaí, pode ser presidente, como um rapaz que mal concluiu o ginásio pode virar cineasta de sucesso. E repetirão essas histórias mais e mais, o dia inteiro, até que vocês passem a viver como se nunca, nunca, nunca, precisassem agitar a ‘realidade’ – porque, sim, você – você, você mesmo! – pode ser rico/presidente/ganhar o Oscar, algum dia!

A mensagem é clara: continuar a viver de cabeça baixa, nariz virado para os trilhos, não sacuda o barco, e vote no partido que protege hoje o rico que você algum dia será.

2. Inventaram um veneno que sabem que vocês jamais quererão provar. É a versão deles da mútua destruição garantida. E quando ameaçaram detonar essa arma de destruição econômica em massa, em setembro de 2008, nós nos assustamos.

Quando a economia e a bolsa de valores entraram em espiral rumo ao poço, e os bancos foram apanhados numa “pirâmide Ponzi” global, Wall Street lançou sua ameaça-chantagem: Ou entregam trilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes dos EUA, ou quebramos tudo, a economia toda, até os cacos. Entreguem a grana, ou adeus poupanças. Adeus aposentadorias. Adeus Tesouro dos EUA. Adeus empregos e casas e futuro. Foi de apavorar, mesmo, e nos borramos de medo. “Aqui, aqui! Levem tudo, todo o nosso dinheiro. Não ligamos. Até, se quiserem, imprimimos mais dinheiro, só pra vocês. Levem, levem. Mas, por favor, não nos matem. Por favor!"

Os economistas executivos, nas salas de reunião e nos fundos rolavam de rir. De júbilo. E em três meses lá estavam entregando, eles, uns aos outros, os cheques dos ricos bônus obscenos, maravilhados com o quão perfeita e absolutamente haviam conseguido roubar uma nação de otários. Milhões perderam os empregos: pagaram pela chantagem e, mesmo assim, perderam os empregos, e milhões pagaram pela chantagem e perderam as casas. Mas ninguém saiu às ruas. Não houve revolta.

Até que... começou! Em Wisconsin!

Jamais um filho de Michigan teve mais orgulho de dividir um mesmo lago com Wisconsin!

Vocês acordaram o gigante adormecido – a grande multidão de trabalhadores dos EUA. Agora, a terra treme sob os pés dos que caminham e estão avançando!

A mensagem de Wisconsin inspirou gente em todos os 50 estados dos EUA. A mensagem é “Basta! Chega! Basta!” Rejeitamos todos os que nos digam que os EUA estão falidos e falindo. É exatamente o contrário. Somos ricos! Temos talento e ideias e sempre trabalhamos muito e, sim, sim, temos amor. Amor e compaixão por todos os que – e não por culpa deles – são hoje os mais pobres dos pobres. Eles ainda querem o mesmo que nós queremos: Queremos nosso país de volta! Queremos, devolvida a nós, a nossa democracia! Nosso nome limpo. Queremos de volta os Estados Unidos da América.

Não somos, não queremos continuar a ser, os Estados dos Business Unidos da América!

Como fazer acontecer? Ora, estamos fazendo aqui, um pouco, o que o Egito está fazendo lá. E o Egito faz, lá, um pouco do que Madison está fazendo aqui.

E paremos um instante, para lembrar que, na Tunísia, um homem desesperado, que tentava vender frutas na rua, deu a vida, para chamar a atenção do mundo, para que todos vissem como e o quanto um governo de bilionários lá estava, afrontando a liberdade e a moral de toda a humanidade.

Obrigado, Wisconsin. Vocês estão fazendo as pessoas ver que temos agora a última chance de vencer uma ameaça mortal e salvar o que nos resta do que somos.

Vocês estão aqui há três semanas, no frio, dormindo no chão – por mais que custe, vocês fizeram. E não tenham dúvidas: Madison é só o começo. Os escandalosamente ricos, dessa vez, pisaram na bola. Bem poderiam ter ficado satisfeitos só com o dinheiro que roubaram do Tesouro. Bem se poderiam ter saciado só com os empregos que nos roubaram, aos milhões, que exportaram para outros pontos do mundo, onde conseguiam explorar ainda mais, gente mais pobre. Mas não bastou. Tiveram de fazer mais, queriam ganhar mais – mais que todos os ricos do mundo. Tentaram matar a nossa alma. Roubaram a dignidade dos trabalhadores dos EUA. Tentaram nos calar pela humilhação. Nos tiraram a mesa de negociações!

Recusam-se até a discutir coisas simples como o tamanho das salas de aula, ou o direito de os policiais usarem coletes à prova de balas, ou o direito de os pilotos e comissários de bordo terem algumas poucas horas a mais de descanso, para que trabalhem com mais segurança para todos e possam fazer melhor o próprio trabalho –, trabalho que eles compram por apenas 19 mil dólares anuais.

Isso é o que ganham os pilotos de linhas curtas, talvez até o piloto que me trouxe hoje a Madison. Contou-me que parou de esperar algum aumento. Que, agora, só pede que lhe deem folgas um pouco maiores, para não ter de dormir no carro entre os turnos de voo no aeroporto O'Hare. A que fundo do poço chegamos!

Os ricos já não se satisfazem com pagar salário de miséria aos pilotos: agora, querem roubar até o sono dos pilotos. Querem humilhar os pilotos, desumanizá-los e esfregar a cara dos pilotos na própria vergonha. Afinal, piloto ou não, ele não passa de mais um sem-teto...

Esse, meus amigos, foi o erro fatal dos Estados dos Business Unidos da América. Ao tentar nos destruir, fizeram nascer um movimento – uma revolta massiva, não violenta, que se alastra pelo país. Sabíamos que, um dia, aquilo teria de acabar. E acabou agora, já começou a acabar.

A mídia não entende o que está acontecendo, muita gente na mídia não entende. Dizem que foram apanhados desprevenidos no Egito, que não previram o que estava por acontecer. Agora, se surpreendem e nada entendem, porque tantas centenas de milhares de pessoas viajam até Madison nas últimas semanas, enfrentando inverno brutal. “O que fazem lá, parados na rua, com vento, com neve?” Afinal... houve eleições em novembro, todos votaram... O que mais podem desejar?!” “Está acontecendo algo em Madison. Que diabo está acontecendo lá? Quem sabe?”

O que está acontecendo é que os EUA não estão falidos. A única coisa que faliu nos EUA foi a bússola moral dos governantes. Viemos para consertar a bússola e assumir o timão para levar o barco, agora, nós mesmos.

Nunca esqueçam: enquanto existir a Constituição, todos são iguais: cada pessoa vale um voto. Isso, aliás, é o que os ricos mais detestam por aqui. Porque, apesar de eles serem os donos do dinheiro e do baralho e da mesa da jogatina, um detalhe eles não conseguem mudar: nós somos muitos e eles são poucos!

Coragem, Madison, força! Não desistam!

Estamos com vocês. O povo, unido, jamais será vencido.

* Tradução: Coletivo Vila Vudu.

domingo, 6 de março de 2011