O que queríamos dizer...
Preto no branco: papéis assinados. Compromissos firmados. Estávamos lá, eu e você. Estavam lá os jornais e as autoridades. Um momento histórico. Uma conquista histórica. Depois de décadas de luta, de resistência e teimosia, a Comunidade do Pilar conquista com dignidade o direito de permanecer em seu chão – porque este chão onde começou a História do Recife é também o chão onde nossos avós e pais construíram suas histórias, onde nós construímos nossas histórias, onde começam e começarão as histórias das vidas de nossos filhos.
Estamos felizes, sim. Estamos ansiosos também. Mas, acima de tudo, estamos convenciodos de que estas conquistas só serão marcas de uma História Nova com diálogo e participação. E diálogo é a possibilidade de ouvir o diferente. Dialogar é estar aberto a ouvir e argumentar com quem pensa diferente de nós, com quem tem dúvidas, com quem tem idéias e quer trocá-las, com quem tem (e terá sempre!) direito de falar. Falar pra garantir que nossa História seja uma História de Liberdade e Democracia.
No último sábado, dia 18 de Abril, estávamos lá: no pátio da Igreja, no meio do povo da comunidade, das autoridades, dos curiosos e da Imprensa. Estávamos lá, mas não pudemos dizer a todos e todas o que pensamos do projeto de revitalização e do processo de renovação que, agora, se inicia.
E o que pensamos é que o nosso país tem muitas contradições. Nosso Brasil é um país rico, mas com um povo pobre. O que pensamos é que existem outros problemas além da precariedade de nossos barracos e da lama em nossas ruas. Queremos que, de casa nova, cada um de nós possa ter também uma vida nova: com trabalho, escola, saúde, cultura, participação e esperança. Já dissemos uma vez, mas vale repetir...
Não queremos ser lembrados por ter a terceira maior taxa de analfabetismo da capital! Não queremos ser lembrados como uma comunidade onde os chefes de família têm menos que 4 anos de estudo (o que é também a terceira pior marca da cidade)! Não queremos continuar com boa parte da nossa população sem rendimento nenhum e com quase a metade ganhando no máximo 1 (um) salário mínimo por mês! Não nos sentimos representados por aquilo que não temos...
Queríamos dizer que a Comunidade do Pilar recebe a oficialização da revitalização com festa e luta. Queríamos dizer que nossa gratidão primeira e nossa gratidão mais forte é aos primeiros lutadores e lutadoras que ocuparam estas terras há décadas atrás. Eles e elas, teimando em ficar neste chão, começaram uma história de resistência pelo nosso direito à moradia. Estamos felizes por ver a disposição do governo municipal em atender ao nosso direito (e Direito de Todos!) de moradia. Mas isto, não basta. Queremos participar. Temos vontade, disposição e idéias. Queremos construir juntos um projeto solidário e sustentável de desenvolvimento econômico para nossa Comunidade. Queremos construir juntos um projeto educacional que nos dê impulso para mudar a nossa história e de nossa cidade. E sabemos que estes projetos são tão importantes quanto o projeto do conjunto habitacional.
O que queríamos dizer é que estamos prontos a continuar fazendo com as nossas mãos as nossas histórias. Estas mãos que ergueram barracos são mãos de lutadores/as, são mãos de vencedores/as. E queremos tomar, nestas mãos, o futuro de nossa Comunidade, que é o nosso futuro e o futuro de nossos filhos. Por isso, queremos participar. Queremos viver o processo de revitalização. Sabemos que toda conquista de Direitos é conquista do povo. Estamos aí!
Recife, Comunidade do Pilar, em 20 de Abril de 2009.
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