nUma desSas nossas AndAnÇaS pela Rede em Busca de Notícias sOBre o Pilar (a Comunidade do Pilar), eis que encontramos um trabalho de fevereiro de 2007. O maiS InTeressante no TeXto, galera, é que o pessoal Da EQuiPe de TraBaLho, antEs de chegaR ao PilAR foi informado de QuE a ComUniDadE NãO Existia... pois é! Até PaRecE que não... se A gente faZ uma busCa SimPlEs, no GooGle que seja, vai obtEr muito PoUcA InFormaçãO como resultado. É PoR Isto TamBém que a RCP AsSumIu este papel de ComUNicaÇão VirTuaL ... Pra gente ser VistO!!! E ValeU à GaLera que fez este trabalHo Aí e que Publicou este texto que faz PeNSAR!
NÃO É UM CONJUNTO VAZIO
A Comunidade do Pilar tem sido riscada do mapa do Recife da pior maneira: através de boatos de que ela não existe
por Ana Lira (analira@rabisco.com.br)
A primeira coisa que eu pensei quando procurei pela primeira vez a Comunidade do Pilar e passei mais de trinta minutos andando pela ilha do Recife Antigo, até encontrar, foi que os boatos que circulam pela cidade estavam certos. O local foi construído em torno da Igreja do Pilar, há cerca de quarenta anos, mas desde que a ilha começou a ser reorganizada, com projeto novo de urbanização e tudo mais, que passaram a dizer a comunidade havia deixado de existir.
Entre as versões apresentadas pelas várias pessoas com quem conversei ao longo do último ano, havia histórias de que a comunidade tinha sido recuperada por meio dos projetos sociais implantados na área e outras de que os barracos haviam sido demolidos e as pessoas removidas para outro local. De fato, qualquer morador ou visitante que andar pelas principais vias do Recife Antigo jamais verá um traço sequer da comunidade – e o problema é todo esse.
O bairro virou um grande pólo de negócios, as praças foram recuperadas, os bares reabertos, mas a população do Pilar continua deslocada e esquecida do resto do Recife entre os edifícios comerciais e empresas que prestam serviço na área do Porto. Para se ter uma idéia, eu passei cerca de trinta minutos procurando porque as pessoas que trabalham no bairro – que é bem pequeno – não sabiam onde a comunidade ficava. O meu espanto foi ainda maior quando consultei dois guardas da Polícia e eles me informaram que não tinham a menor idéia do que eu estava procurando.
O primeiro sinal chegou quando perguntei a um rapaz que trabalhava como estivador no Porto e ele me respondeu: “tem um favelão lá em baixo, mas não sei se é isso que a moça está procurando”. Então, eu segui em frente e qual não foi a minha surpresa quando observei a real situação do local. Você não acredita que está no mesmo bairro. É uma paisagem desoladora. Lembro de Paulo, um colega da oficina de fotografia, me dizendo: “Ana, a situação dessa comunidade é bem precária, as pessoas são bem carentes, eu não tinha a menor idéia que era assim”. Nem eu.
Durante as minhas andanças por esses bairros e comunidades, em apenas um lugar na cidade de Recife eu vi condições semelhantes de pobreza: na Ilha de Deus. A questão é que a Ilha de Deus virou promessa do novo governador e recebeu visitas da comitiva governamental há poucos dias, mas o Pilar enfrenta uma situação diferente. Não é um local pobre que as pessoas sabem que existe. É uma área que no imaginário coletivo foi recuperado – ou extinto – com a nova cara do Recife Antigo.
É isso que diferencia este espaço de outros existentes na capital pernambucana, e até mesmo no Brasil. O problema aqui não é apenas ser carente e não ter estrutura, é não ter perspectiva de mudança por ser considerado um espaço inexistente. É como se no universo de elementos que compõem o imaginário popular sobre a área, o Pilar correspondesse a um conjunto vazio. As pessoas conversam contigo e se dizem riscadas do mapa da cidade.
Parece que os únicos seres viventes que sabem do Pilar são os moradores, os grupos que desenvolvem projetos sociais com a criançada e pessoas que trabalham no entorno. A população se diz esquecida pelo poder público. Contudo, os representantes da Prefeitura sabem que a comunidade existe – até porque um dos poucos locais de onde é possível ver os barracos é, ironicamente, na frente da Prefeitura. Além disso, foram feitos planos de recuperação do local, mas os projetos ainda não vingaram e os boatos de que a população do pilar está morando feliz em algum lugar do bairro, ou em outros locais da cidade, não param de circular.Eu estou tentando contatar pessoas de outros projetos que trabalham no local e durante a oficina de fotografia que eu participei dentro da comunidade, no ano passado, eu recebi a sugestão de montar fazer um registro fotográfico sistemático da comunidade. A idéia não é somente mostrar as condições precárias em que as pessoas vivem ou praticar uma “estética da miséria”, como dizem alguns, mas colaborar para desmistificar os boatos de que aquele pessoal que mora ali, em barracos que muitas vezes não têm nem cinco metros quadrados, foi transferido para alguma espécie de paraíso na Veneza Brasileira. Eu queria que isso tivesse acontecido de verdade e eles também.
Há duas meninas da comunidade ajudando – Ana Carla e Viviane. Quando o professor da oficina, que elas também fizeram, propôs esse trabalho em conjunto, disse que nós tentássemos fazer isso durante uns cinco anos para ver o quanto a comunidade mudaria neste período. Sentada aqui e relatando esta experiência pela terceira vez em um texto, eu fico pensando que a melhor coisa que poderia acontecer seria escrever, daqui a cinco anos, e contar a vocês que nós encerramos o registro fotográfico com as pessoas se sentindo inseridas novamente no mapa da cidade e o local sendo chamado de qualquer outra coisa que não fosse “favelão”. Quem quiser colaborar, seja bem vindo!
(publicado de 18 de Janeiro a 02 de Fevereiro de 2007)
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