domingo, 30 de agosto de 2009

Um livro relata dados de uma guerra escondida:

"Auto de Resistência" chega às livrarias como libelo contra impunidade de grupos de extermínio

Rio de Janeiro - O drama das vítimas da violência no Rio de Janeiro é tema de uma publicação que resultou da parceria do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania na Universidade Cândido Mendes com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e a Fundação Ford, no Projeto de Apoio a Familiares de Vítimas de Chacinas.
Há menos de um mês nas livrarias, o Auto da Resistência relata 19 histórias, quase todas sobre a mesma tragédia dessas pessoas, impotentes diante da impunidade.
Os casos abordados são conhecidos da opinião pública do Rio de Janeiro e vários tiveram repercussão nacional e até mundial, como o da chacina de Vigário Geral em dezembro de 2005. Denise Alves Tavares era mãe de Douglas Roberto, 16 anos, sequestrado com outros 12 jovens por policiais militares que tinham recebido R$ 50 mil para entregá-los aos traficantes de Parada de Lucas."Fui pra lá às seis da manhã e na escada da favela um rapaz do tráfico me abordou: ?Tia, a senhora não é mãe de um dos meninos que foi pego ontem?? Eu disse: Sou, sou mãe do Douglas Roberto. ?O teu filho, as orelhas dele foram cortadas, os dedos dele foram cortados, e o nariz. Vai para o Juizado de Menores que ele está lá?."Patrícia de Oliveira Silva é irmã de Wagner dos Santos, que aos 22 anos sobreviveu ao sequestro por PMs na noite de 23 de julho de 93. Os policiais recolheram três rapazes que costumavam dormir perto da igreja da Candelária, no centro carioca. Levaram-nos para o Aterro do Flamengo e abriram fogo. Depois, voltaram à Candelária e atiraram contra cerca de 50 crianças e adolescentes que dormiam. Oito morreram.A repercussão internacional fez com que o governo do estado internasse Wagner no Hospital do Corpo de Bombeiros, mas ele recebeu ameaças de morte. Recuperado, sofreu outro atentado em novembro de 94, na estação Central do Brasil, e fugiu para a Suíça, onde vive. Quando vem ao Brasil, precisa de proteção da Polícia Federal.Em muitas histórias, a cena se repete como num filme. Jovens saem de uma festa, são abordados pela PM e executados à queima-roupa no local ou em alguma área remota, uma fazenda abandonada. Quatro foram mortos porque um era soldado do Exército e o capitão da PM deu a sentença sumária para evitar problemas com as Forças Armadas.Um grupo de 11 jovens moradores de Acari saiu para um fim de semana num sítio em Suruí, no interior do estado, e foi retirado de lá por homens armados, desconhecidos até hoje, 19 anos depois. Nem os corpos das vítimas foram encontrados. A mãe de Rosana, 19 anos, Marilene Lima de Souza, resume a via crucis dos familiares junto às autoridades:"Após muita dificuldade, conseguimos ser recebidos pelo então secretário de Segurança, que arrolou o inquérito para a comissão especial que apurava extermínios na Baixada Fluminense. Essa comissão cuidou do caso durante um ano e foi extinta pelo governo seguinte. Foi instaurado um inquérito para investigar policiais do 9º Batalhão da PM. O caso de Acari é um inquérito ainda até hoje, não é um processo. Isso traz muita dificuldade, pois é preciso provar que foram policiais que participaram dessa empreitada até mesmo para requerer pensão".


Fonte: Agência Brasil

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SERVIÇO:
O livro Auto de Resistência está disponível nas livrarias. No site da Livraria Cultura pudemos obter as seguintes informações:


Auto De Resistencia (em Português) (2009)
Autoras/organizadoras: SOARES, BARBARA MUSUMECI / MOURA, TATIANA / AFONSO, CARLA ; Editora: 7 LETRAS
Preço R$ 38,00

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